terça-feira, 3 de maio de 2016

Seu Sofrimento é único

Por Carlos Augusto Rodrigues de Souza* 

A resistência em tratar um sofrimento psíquico (mental) é natural. Num primeiro momento, hesitamos. Depois, assumimos que precisamos de ajuda, e o procuramos. Mas, há aqueles que ignoram, escondem, guardam e carregam o sofrimento dentro de si. Até que num determinado momento este sofrimento se impõe e transborda. E quando o sofrimento transborda não tem mais jeito. A necessidade de ajuda é urgente.

Ajuda urgente significa que a pessoa não consegue mais trabalhar, sente-se estagnada, o relacionamento afetivo fica insuportável, e a pessoa não aguenta mais a si mesma. Sua mente trava, e seu corpo grita através de várias dores. São sintomas das mais variadas ordens. Estes sintomas são formas de ordenar, de organizar o próprio sofrimento.

Não poucas vezes fui indagado se já tratei de pessoas com determinado sintoma. A resposta é sim e não. Sim já tratei de pessoas deprimidas, ansiosas, com problemas psicossomáticos e problemas em seus relacionamentos, pânico, e por aí vai. Mas estas formas de organização do sofrimento são apenas a ponta do iceberg.
Cada pessoa é única, e sua história singular. Logo, seu sofrimento também será único e singular. Mesmo que seus sintomas sejam semelhantes a uma organização depressiva, por exemplo, sua depressão será única no mundo. Não existirá nenhuma semelhante à sua.
Por isso, mesmo com todo conhecimento e experiência profissional, diante de um paciente novo…  sei que aquela experiência será diferente, que terei diante de mim uma pessoa que porta uma verdade sobre si e sobre o mundo únicas, que só ela tem. Seu percurso psicoterápico, portanto, será único, singular, e novo.
O sofrimento tem uma organização que comunica algo sobre a vida da pessoa. Mais ainda, ele mostra o quanto esta pessoa é potente. Mas esta potência, que neste momento, gravita em torno do sofrimento, faz falta em outras áreas de sua vida.

É isso que dá a ela a sensação de falta de energia e de vazio. A pessoa desloca uma força significativa para conter o próprio sofrimento. À medida que a pessoa vai sendo cuidada, sua força vai sendo liberada, para ser usada de forma criativa, em prol de si mesma, do próximo, e de seus projetos de vida.

* Carlos Augusto Rodrigues de Souza e psicoterapeuta, Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP. Para saber mais sobre seu trabalho acesse: https://clinicapsicologiakairos.wordpress.com/