terça-feira, 5 de julho de 2016

Preconceito Contra a Psicoterapia e As Doenças Mentais

Por Raquel Francisca Sabio*


Não relutamos para procurar um médico em função de um sintoma físico, mas isso muitas vezes acontece quando passamos por um sintoma psicológico como ansiedade, preocupação, tristeza prolongada, depressão, fobia (medo fora de controle), distúrbios de humor , entre outros. É difícil encontrar pessoas que encarem a psicoterapia como tratamento e até como uma forma de prevenção contra a ocorrência de problemas psicológicos mais graves. As pessoas relutam em procurar um psicólogo, em função do estigma social que ainda existe. Muitos ainda acham que psicólogo é coisa para louco ou que buscar ajuda é um sinal de fraqueza, de incapacidade para resolver seus próprios problemas... desta forma, só procuram o psicoterapeuta quando o problema já se instalou e começou a interferir nos seus relacionamentos familiares, amorosos e sociais, e até mesmo em seu trabalho.


Dizer que alguém é "doente dos nervos" ou "doente mental" é quase um xingamento.  No geral, as pessoas têm pouca informação sobre as doenças mentais e muito preconceito.   Isso se torna um problema quando as pessoas resistem em pedir ajuda, em função do medo, e da vergonha que vem com o estigma, sabendo do preconceito que irão enfrentar.

Algumas situações, que para algumas pessoas podem ser simples e de fácil resolução, para outras não são, pelo simples fato de que somos diferentes. As doenças psicológicas podem afetar qualquer pessoa, de qualquer idade, cultura ou raça, com ou sem fator desencadeante. Situações de estresse como pressão excessiva no trabalho, divórcio,   mudanças na vida,  podem contribuir para o aparecimento de distúrbios psíquicos, ou seja: podem causar um desequilíbrio emocional. Podemos vivenciar um momento de crise, de luto, de abandono, de frustração, de perda, acontecimentos por si só difíceis de “encarar”, ou mesmo sem que aparentemente nada de especial tenha acontecido e por conta desses transtornos, podemos necessitar de algum tipo de ajuda profissional. ” (Almeida Filho e cls.,1997) .Fatores genéticos, familiares, sociais, psíquicos, ambientais, enfrentamento, preconceito, e até o bulling, tão falado e questionado nos dias de hoje, contribuem para o aparecimento destes transtornos. Diante de situações difíceis, qualquer um pode apresentar um distúrbio emocional.  As doenças mentais graves e persistentes são menos comuns, mas ainda afligem grande parte da população, que embora precisem de ajuda profissional, evitam buscá-la por medo de serem taxados como "loucos" ou "doentes mentais". 

Os problemas psicológicos englobam todo desconforto emocional que não seja causado por um acontecimento traumático ou desagradável recente. Ou seja, é normal sentir-se triste após o fim de um relacionamento ou com a morte de um ente querido. Entretanto, se após 6 meses você ainda está tomado pela tristeza e não conseguiu retomar o seu funcionamento normal, isso pode ser o sinal de um problema maior. Qualquer pessoa pode começar a sentir-se triste, irritada, ou apenas frustrada pelos problemas da vida quotidiana. Pode perder o sono, tornar-se irritável, sem paciência, de mal humor...  No caso dos sintomas de problemas psicológicos os sentimentos e emoções normais que nós sentimos no cotidiano ficam exagerados.  Sentimos ansiedade, diante de situações do cotidiano, mas se a ansiedade passa a ser permanente e sem um motivo aparente, isso pode ser o sintoma de um transtorno de ansiedade. É normal sentir tristeza diante do fim de um relacionamento, por exemplo, entretanto, se a tristeza não vai embora e ficamos tristes o tempo todo esse pode ser o início de uma depressão, pode ser o fator desencadeante.  A mesma coisa ocorre com o medo exagerado, a irritação exagerada, entre outros.  Nestes casos, o exagero pode ser o sintoma de algo maior do que um simples desequilíbrio emocional, e pode ser um sinal de que a pessoa está precisando da ajuda de um profissional.  A ansiedade é um estado emocional, sentido como antecipação de problemas, quase que um medo ou apreensão em relação ao futuro. De fato, todos sentem ansiedade quando se veem diante de uma situação difícil ou estressante. Se por precaução refletimos, e buscamos uma solução para um problema, isso pode ser produtivo para o nosso desempenho, ou seja, a ansiedade é um estado normal e é até necessária para a boa adaptação do indivíduo. Entretanto, a ansiedade passa a ser considerada um transtorno quando o indivíduo a experimenta de maneira desproporcional, relacionada a preocupações excessivas e não realistas, em situações que a maioria das outras pessoas enfrentariam com pouca dificuldade.

O Transtorno de Ansiedade Generalizada é caracterizado por uma ansiedade persistente e generalizada, em qualquer situação. Nesse caso, os sintomas são o medo e uma preocupação exagerada, desproporcional e difusa com em relação ao futuro, que acomete essas pessoas o tempo todo, gerando mal-estar físico e psíquico. Essas pessoas estão sempre preocupadas e antecipando possíveis desgraças e catástrofes consigo ou com seus familiares. Ele não deve ser confundido com o transtorno do pânico, em que os pacientes também experimentam estados de ansiedade prolongada entre uma crise e outra. Os pacientes de ansiedade generaliza não apresentam crises de pânicos e sim estados permanentes e prolongados de desconforto ansioso. O indivíduo que sofre de transtorno de ansiedade generalizada pode apresentar os seguintes sintomas: tendência a cansar-se com facilidade, hipervigilância, sensação de que está no limite do nervosismo, dificuldade de concentração e frequentes esquecimentos, Irritabilidade, tensão muscular, dificuldade para adormecer ou sono insatisfatório, preocupação com a possibilidade de doença grave ou acidente embora não existam indicativos de que essas coisas possam vir a acontecer,  tendência a assustar-se com facilidade e de forma intensa sem motivos justificáveis.  Em alguns casos podem ocorrer sintomas físicos como: boca seca, mãos ou pés úmidos, enjoos ou diarreia, aumento da frequência urinária, sudorese excessiva, dificuldade de engolir ou sensação de um bolo na garganta, etc.       

Quanto ao ataque de pânico,  ele é um elemento essencial do transtorno do pânico, é um período de intenso medo ou desconforto que aparece de repente, muitas vezes em lugares familiares, onde não existe nada aparentemente ameaçador ao indivíduo. Mas quando o ataque vem, ele se sente como se existe uma ameaça real, e o corpo reage em conformidade. Ataques de pânico são geralmente classificados como  parte do transtorno do pânico quando eles  ocorrem mais de uma vez, e são acompanhados por pelo menos quatro dos seguintes sintomas: suores, falta de Ar,  batimento cardíaco acelerado,  dor torácica,  sensação de instabilidade, Sensações de sufoco ou abafamento,  dormência ou zumbidos,  desmaios; tremores ou agitação e medo de perder o controle, enlouquecer, ou morrer. O desconforto e a sensação de perigo do ataque é tão intensa que leva as pessoas com transtorno do pânico muitas vezes a achar que está tendo um ataque cardíaco ou outras doenças com risco de vida.

Muitos familiares e acompanhantes questionam: - “É mesmo verdade o que ela/ele diz que sente? ”  E respondemos: As pessoas sentem de verdade todos estes sintomas, não dizem que sentem ou inventam os sintomas... E há bem pouco tempo ouvi o questionamento: Mas está todo mundo em PÂNICO?  Olha, acredito que se não prestarmos atenção em nós mesmos, nos gritos calados, em nossas reais necessidades, em nós mesmos, logo estaremos todos em pânico... precisamos nos olhar e nos enxergarmos. Reconhecer que temos limites. 

O problema é que só uma parcela pequena dessas pessoas busca ajuda. Isso faz com que os casos se agravem. Muito deste sofrimento poderia ser reduzido com a detecção precoce e tratamento rápido, mas, infelizmente, isso não vem acontecendo. Vale a pena ressaltar, que esses artigos têm como objetivo, elucidar e informar o público, não são ferramentas para diagnóstico. Se você se identifica com alguns destes sintomas, procure a ajuda de um profissional. A Psicoterapia Comportamental é um recurso para ajudá-lo a entender melhor a si mesmo, às pessoas ao seu redor e aos seus problemas e pode auxiliá-lo a encontrar maneiras de enfrentar as dificuldades e melhorar sua qualidade de vida.

Raquel Francisca Sabio é  Psicóloga e Terapeuta Comportamental